Tuesday, April 10, 2007

Ano Heliofísico Internacional

O Professor Miguel Ferreira, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, doutorado em Astrofísica, explica porque é importante a comemoração do Ano Heliofísico Internacional.
Em que consiste o Ano Heliofísico Internacional?
As pessoas têm a ideia que o Sol nasce de manhã, depois desce e põe-se, sempre da mesma forma. O que acontece é que o Sol tem uma actividade muito dinâmica, interage com o meio que o rodeia. Essa interacção dá-se porque o Sol se expande na forma de um vento que pode atingir a Terra. Isto provoca vários fenómenos, alguns com consequências inócuas, como são as auroras boreais, mas também com influências mais concretas. Existe aquilo a que chamamos tempestades, que podem danificar satélites, são perigosas para os astronautas, que naquela altura estiverem a dar um passeio pelo espaço e, em grandes altitudes, já houve casos em que foram danificadas centrais eléctricas.
Estamos a falar de um fenómeno natural…?
São fenómenos naturais. Da mesma forma que a Terra tem sismos, também no Sol existe necessidade de libertar energia. Hoje em dia fala-se em previsão do tempo. Em vez de o fazermos na Terra, queremos fazê-lo no espaço. Numa escala de tempo alargada queremos falar numa climatologia espacial. Em termos históricos há uma ligação entre as pequenas idades do gelo e os ciclos solares.
Como se podem prevenir os estragos provocados por estas tempestades solares?
A baixas altitudes não se pode dizer que exista um grande impacto. A situação mais complicada é com os satélites de comunicação, de investigação… é quase como levar com uma grande dose de raios X. Com esta iniciativa internacional, pretende-se ajudar a perceber melhor esse fenómeno. O que sabemos é que existem períodos mais activos e mais calmos da actividade magnética solar.

INFLUÊNCIA CLIMÁTICA.

De que forma o vento solar afecta a Terra?
A Terra tem uma magnetosfera. O vento solar empurra-a e distorce-a. Quando há uma tempestade altera-se todo o equilíbrio desta camada que protege o planeta.
O que acontece, em termos de clima, quando esse equilíbrio é perturbado?
Se observamos uma imagem do Sol, vemos manchas mais escuras. Essas manchas são as zonas de maior actividade magnética. Houve uma altura, no século dezasseis, em que os chineses verificaram que o Sol não apresentava manchas. Esse período coincidiu com uma pequena idade do gelo, com baixas temperaturas. Existe também outra teoria, segundo a qual a actividade do Sol afecta o que chamamos de raios cósmicos, que são partículas de outras estrelas, de galáxias activas e buracos negros, que chegam até à Terra. O fluxo de partículas depende da actividade solar. Há investigadores que sugerem que existe uma relação entre este fluxo e o processo de formação de nuvens, que afecta a luz solar e a quantidade de chuva no planeta.
Esta iniciativa pode ajudar a desenvolver conhecimento sobre esta área?
Sim. Um dos objectivos da comunidade científica é desenvolver esta área de investigação. O outro é divulgar a relação de interacção entre este astro e o planeta. O cidadão comum deve saber que o Sol não é estático. Depois, tem de perceber como a Terra está ligada ao Sol. Poucas pessoas saberiam que o Sol tem vento e tempestades.
O que se pretende com a realização, nos Açores, do Ano Heliofísico Internacional?
O que se pretende é juntar a Universidade dos Açores às comemorações internacionais. Já pensámos em algumas actividades, embora não estejam totalmente definidas, que vão desde a promoção de palestras, especialmente nas escolas, e tentar também fazer uma exposição do No Campus de Angra do Heroísmo, sito ao Pico da Urze. Existe a possibilidade de trazer até Angra do Heroísmo a exposição que o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto está a organizar sobre esta temática. Essa possibilidade é real ado que colaboro, em termos de investigação com esse centro.
(In Diário Insular)

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